quinta-feira, 23 de abril de 2009

Mastigando na Quinta Feira - Heróis e Lendas

por André "Fox" Dembitzky

Olá e bem vindos a uma nova quinta-feira. Primeiramente gostaria de parabenizar os diversos vencedores das últimas etapas dos classificatórios ocorridos por todo Brasil. Tivemos boas surpresas, nomes mais do que conhecidos e até alguns novatos. Ótimo! Um bom mix de jogadores para o nacional 2009.

Numa opinião como organizador de eventos, o reconhecimento por seus pares é algo que o ser humano sociável adora ter. Da para notar que quem ganha, gosta do afago no ego quando tem alguém para torcer por ele. E esse reconhecimento deve ser real e viceral no mais estrito sentido da palavra. Alguém, mesmo que seja lá no fundo da multidão assistindo, tem que gritar ao final da partida decisiva do canpeonato: Joãozinho é CAMPEÃO! VIVA!

Esse sentimento de que alguém acompanhou seu desempenho é uma sensação que motiva qualquer um a continuar a perseguir vitórias e objetivos. Até mesmo um FNM ou campeonato casual de loja fica mais emocionante quando há uma torcida, palmas e alguns urras.

Eu fico pasmo ao ver a comumente comemorações esfuziantes em outros eventos. Corridas de carro, atletismo, natação, vôlei. Sempre tem pelo menos a família apoiando, uma namorada, uma esposa, uma amigo do bairro. A lá olimpíadas, tem sempre alguém com esperanças, mesmo que um pouco remotas, de que aquele sujeito no meio da multidão de competidores, poderá vir a conquistar e com isso demonstrar a todos que ele é mais do que mais um.
Mas no Magic isso é muito pouco visto.

Tenho vívido em minha memória os pulos que o nosso querido Bertu deu no salão da Devir quanto o Paulinho “Taubate” ganhou a final do PTQ e, por conseguinte a vaga e a passagem para o Pro Tour. Coisa de equipe talvez, mas também de comprometimento com aquele com quem você se importa. Mas no geral é difícil ver outras pessoas torcendo. No Brasil, pelo menos, a exceção desse desprendimento pela torcida me parece ocorrer apenas no Nacional de Magic.

Ali muita gente toma “partido” de um ou outro jogador, seja por ele ser de seu estado, conhecido ou simplesmente por alguma simpatia imediatista, e realmente acabasse torcendo por aquela pessoa. No Nacional sim eu vejo um tanto do “coração” dos jogadores expostos, enxergo nos espectadores (que em geral são apenas os jogadores mesmo) reações e comentários sobre sorte, sobre treino, sobre o draft, e é possível perceber que eles estão vibrando ansiosos por ver se aquele cara vai levar mesmo o título.

O Magic não me parece um ambiente em que se comemore ou que as pessoas se deixem levar por comemorações. Não que os amigos não comemorem, que os companheiros de equipe não comemorem, mas parece que não temos heróis, não temos ídolos, e com isso ficamos mesmo satisfeitos quando os nossos amigos gritam “Aeee!!!” ao final do evento.

Existem algumas razões para que sejamos assim menos “festeiros” que outros esportes. Mas mesmo sem a festa é importante que tenhamos a quem nos espelhar para buscar o que é melhor para nosso jogo.

Nesse caso, temos até alguns jogadores que todos acabam procurando nos standings de GP ou de PT quando o coverage começa a transmitir. O PV, o Jabá, o Willy e mais recentemente, principalmente pelo winning streak, o Paulo TTE, Brunilski, etc.

Sempre tem alguém que sabe o nome de todos os brasileiros em eventos estrangeiros e sempre posta algo na liga ou outro fórum começando com o “go go go brazucas!!!”. Mas no fundo a impressão que eu tenho é que estamos realmente apenas curiosos com os resultados e não torcendo, como se faz com um time de futebol.

Muito disso eu acredito que seja pela falta de interesse, primeiramente de nossa própria família. Já vi alguns pais (poucos por sinal) levando os filhos para um evento mais importante, ficando com ele até o final e mesmo não sabendo exatamente como são os goods e bads match ups ou que momento naquela torrente de palavras “desconhecidas” descrevendo a partida que seu filho errou, ele permanecesse atento ao que esta ocorrendo e quem esta tomando a dianteira.
E isso não é culpa da torcida não, é provavelmente culpa do próprio jogador.

Não entendeu? Deixe-me explicar.

Nessa semana tivemos a final de um evento realizado na Domain. O evento chama-se Ethernal Domain, e ele consiste de vários eventos menores classificatórios em que seus vencedores recebem um convite para uma final que tenta ser o que o Invitational era. Um show dentro do jogo.

Ta certo que não se pode comparar um evento multimilhardario e caro como um Mundial de Magic ou Invitational com a final do Ethernal Domain, mas, vamos tentar manter em foco que o objetivo é o entretenimento de quem esta assistindo à cobertura, comentários ou apenas saber quem ganhou.

Eu particularmente realizo o Ethernal Domain pois acho muito legal a idéia de valorizar um vencedor. Esse ano fizemos um evento diferente, um leilão de boosters e um evento suíço para definir quem levaria o caneco (ou troféus no caso).

Bem, ninguém levou o troféu. Por quê? Por que eles simplesmente não queriam. Não que isso seja um erro da parte deles, eles simplesmente não tinham tanto interesse de levar o troféu e dizer “Eu venci!!!” .

Em nosso país posso sentir que ter fama e ser reconhecido não é algo que a grande maioria almeje, principalmente por ela ser bem efêmera/passageira. Não queremos ser apontados na rua e alguém vir nos pedir autógrafo. Nós não valorizamos, pelo menos abertamente, ser admirados por algo que fizemos. Queremos ganhar sim, mas virar celebridade? Acredito que não.

E com isso não acabamos por não fazer muita questão que familiares e conhecidos fora do âmbito do Magic venham prestigiar nossas façanhas. É fato que o Magic é um jogo um tanto complicado e muito difícil de assimilar para novos participantes ou curiosos, mas também não deixamos barato nem facilitamos para que as pessoas se familiarizem com ele.

Normalmente não é permitido que pessoas fiquem passeando entre as mesas dos eventos, pois isso pode eventualmente atrapalhar os jogos ainda em andamento e tirar de alguém uma vitória. Bem, se ninguém pode andar no meio do salão para ver os jogos, como raios podemos querer que pessoas se interessem em ficar ali do lado esperando horas pelo resultado de algo que eles nem mesmo podem apreciar e observar corretamente?

Com isso novamente temos vitórias que não podem ser apreciadas em seu máximo. Em outros eventos esportivos, é sempre dada muita ênfase à propaganda do evento, ao show. Ingressos são exemplos disso, já que a maioria dos eventos as pessoas “realmente” pagam para assistir outras pessoas competirem.

Agora, se pudermos juntar esse espetáculo com os jogos acredito que o incentivo para que as pessoas acompanhassem o esporte Magic seria muito maior. Claro que não dá para cobrar ingresso (será?), mas ao menos fornecer uma estrutura melhor para a observação (ao menos um pouco melhor do que tem sido feito até agora) das partidas.

Eu sou da levada de organizadores que fica muito contente quanto alguém pede para dar uma espiada no que está ocorrendo no evento, Provavelmente a pessoa não vai entender nada, mas ao menos não estou excluído-a de algo, e fazendo parecer que ela esta ali como um intruso.

O coverage usual é ótimo, e atualmente é a forma mais difundida de visualização das partidas. Mas até no xadrez, um tipo de jogo muito parecido com o magic, os observadores tem um telão MONSTRO para observar as jogadas entre os participantes. Não em todas as partidas claro, mas ao menos nas mais importantes. Isso seria algo que poderia ser feito com os Feature Matchs, por exemplo.

Gostaria de poder ir a um evento de magic, e de uma sala observar de perto o que ocorre na mesa, as mãos e comentar em voz alta, sem que os jogadores envolvidos pudessem ser prejudicados por isso. Pelo que se fala e se mostra nas transmissões dos PT é exatamente isso que ocorre. Mas será que num futuro próximo teremos isso em nacionais (no Brasil) ou PTQs? Essa é uma ferramenta que pode ser explorada. Uma TV grande, um transmissão wire-less e uma câmera não são difíceis de conseguir. Na devir mesmo pro exemplo, os jogadores poderiam ficar com um juiz em separado numa sala afastada e na entrada do salão poderia rolar a transmissão.

Esse aparato de promoção faria com que mais pessoas fossem aos eventos, não só para jogar os Paralelos e sim para apreciar o evento, ver como andam as coisas e socializar com outros participantes.

A Domain tem trabalhado para que o GP São Paulo desse ano possa oferecer uma gama de eventos fora do âmbito “mesa de jogo” para que familiares, professores, curiosos e visitantes tenham uma experiência gratificante estando lá. Vai dar certo? Quem sabe, é uma tentativa. Contamos com sorte e trabalho duro para tal.

Hoje vemos diversos organizadores trabalhando para tornar seus eventos verdadeiros shows (Ertai, vou usar a palavra Show aqui em sua homenagem hehehe!!!). Não é necessária uma banda de rock, bebida ou comida grátis (não que também não seja bom), mas podemos fazer de cada evento uma coisa única. Especial e com isso, com um troféu, uma camiseta promo limitada, sorteios de produtos, prêmios não relacionados ao jogo, possamos fazer com que a sociedade veja e dê mais importância ao que fazemos do que simplesmente achar que somos um bando de “bobos” participando de algo que só nós entendem e só nós damos importância.

Não digo que espero que um dia alguém vá ao Programa do Jô e dê uma entrevista de como foi o Top 8 do mundial ou do Pro Tour X, ou que se discuta baralhos e match-ups no SportTV, com o galvão buenos gritando “Jabaaaaaaaa!” ou “Paaaaaaaulo Vitor” “Vai que é sua!” mas que ao menos a gente possa dizer que levantamos o caneco no GP mais recente realizado no país e que as pessoas de nossa própria família não virem para a gente com o já famoso ‘Que?!?”

Mas essencialmente tudo isso começa com a valorização de nós mesmo por nossas conquistas. Receber o troféu do Ethernal Domain, Magic 1000, GP ou dar uma entrevista para o blog da loja é o primeiro passo para que valorizemos nossos feitos.

Não pode ser que não seja importante alguém dizer para o outro “Eu fiz a final do GP Buenos Aires, não ganhei mas eu estava lá com 300 jogadores me observando e comentando cada movimento meu”

E sim senhor por que não? Parabéns Fanfarrão, parabéns Leit, Bertu, PV, JABÁ, Willy, Cassati, Paulo TTE, Brunilski e tantos outros (que o espaço não permite colocar).

Parabéns pelas vitórias e tenham muito orgulho das conquistas realizadas por vocês. Qualidade se comprova com regularidade e temos que começar a apreciar e elogiar os vencedores, ao invés de desdenhá-los como se fossem acasos.

Hall of Fame Brasil, por que não?

Abraços e até a próxima quinta!

10 comentários:

Rodrigo disse...

Isso foi realmente ridiculo. Parabens "players", antes admirava vocês, agora...

Basta dizer que nem topico na liga sobre o assunto temos mais devido ao excesso de ego de alguns

nice

André Dembitzky disse...

Não me refiri a exaltações bobas. Não acredito que alguem teha que ganhar e ele mesmo ter que postar sobre sua "grande" vitoria.
Sim reconhecimento. Todo esporte vive de idolos, sem eles não há interesse de novos jogadores ou participantes.
É assim com TODOS os esportes, por que com o Magic tem que ser diferente.
Não afirmo que a pessoa tenha que "postar" sobre sua proprias facanhas~. Imagine o Ronaldo ou o Felipe Massa falando sobre como são otimos e talentosos... isso é ruim.
Mas é invariavel que tenhamos idolos. Que nós comentemos. Que nos façamos o papel de fãs.

Potira disse...

Eu não sei se entendi seu ponto, Fox. Te pentelho a respeito no balcão qualquer hora dessas.

Unknown disse...

Ah, eu realmente torço e comemora na frente do PC cada vitória brasileira nos GPs e PTs...
assim como também fico triste qdo eles perdem...

Acho q eles devem receber reconhecimento sim, pq quem sou eu para desdenhar as vitórias tão suadas de outros caras que já foram tão mais longe do que eu?

MiniIndie disse...

Tio Fox, não é que ninguem quiz ser o campeão, mas colocaremos o nome do "time" o FeFe no trofeu, para mostrar que é mais um conquista do "time"...

Unknown disse...

Eu nao concordo com algumas coisas que vc falou - eu nao posso falar por todo mundo, mas eu por exemplo gosto de ganhar e ganhar trofeu, dar autografo em carta, em spellground, ser reconhecido, carregar a bandeira do brasil - é uma grande parte do jogo pra mim.

E vc fala dos familiares - bem, qdo eu fiz t8 no GP POA a minha mae foi la assistir :P

Quanto a ter um telao no nacional, bom, nao tem nem lugar pra sentar, tem muita coisa que tem que ser melhorada antes de ficar pensando nisso na minha opiniao - apesar de que seria uma boa alternativa aquela confusao do t8 de todos os nacionais onde ficam pedindo silencio e afastando as pessoas até o ponto que nao da pra ver o jogo

PV

Kenseiden disse...

Gostaria de comentar que eu torço muito pelos brasileiros nos eventos internacionais, e torço muito para amigos/novos amigos em eventos locais.

O que foi aquilo que o Leit aprontou com a gente no ultimo mundial? quase nos matou do coração! Eu e mta gente ficamos nervosos dando f5 no pc o tempo todo.

Foi uma final de copa do mundo pra mim.

André Dembitzky disse...

quanto ao telão, não ter onde sentar não é justificativa, a maioria fica em pe mesmo para ver o Feature match (quanto tem).
Pq nçao ao menos no começo ficar em pé para ver num telão e poder discutir de forma tranquila o que ocorre na partida sem interferir no jogo.
A maioria dos jogadores poderia se beneficiar de familiares ou torcida.
Tipo de coisa que quase não tem no país.
a intenção nos artigos que eu escrevo não e dizer a verdade, e sim criar uma discussão para que possamos melhorar algum ponto do ambiente do jogo.

Fox

Victor disse...

Bacana o texto. Tem um olhar muito exclusivo seu, e a tentativa de torna-la real, as vezes, confundem as outras pessoas. No geral, é uma forma de pensar que só pode ajudar a competição. Parabéns Fox.

kelemvor_br disse...

Gostei MUITO deste texto. MESMO. É inspirador, Magic é estagnado em vários pontos do país justamente por falta de motivação para os jogadores. Essa motivação deve vir de dentro, sempre, mas se há toda uma organização, todo um ambiente que estimule a vontade de correr atrás de ser um jogador melhor, então a melhora acontece. Parabéns pelo texto, ÓTIMO ponto de vista.