domingo, 15 de março de 2009

Filosofia Popular

por Leandro "Stalker"

Podemos classificar os artigos sobre Magic em algumas categorias. Existem os reports de torneios, onde o jogador explica toda a sua tregetória, os matchs que enfrentou no campeonato, os side-ins/outs do deck, quantas vezes seu oponente mulligou para 5, e quantas vezes ele topdeckou a carta que precisava para ganhar a partida. Temos as entrevistas, que fazem a gente conhecer um pouco mais sobre o estilo de vida de jogadores, onde tentamos absorver suas dicas de sucesso, aprender suas metodologias de treino (quando treinam).

Outros tipos de artigos são as análises de decks, mas estes acabam muitas vezes estando ligados aos reports, fazendo um link entre a teoria e a prática. Podemos classificar mais categorias, mas a minha preferida são os artigos de “auto-ajuda”. Verdadeiros guias espirituais de motivação e superação pessoal, dicas de como melhorar seu jogo, como lidar com situações complicadas. Ter acesso a essas informações e teorias que a maioria dos outros jogadores não tem. Óbvio que esses artigos muitas vezes estão repletos de clichês e coisas que após ler você fala “ah, mas isso eu já sabia”. Por mais repetitivo que esses artigos sejam, não faz mal a ninguém relembrar alguns conceitos básicos.

Com os regionais se aproximando, fiquei inspirado em tentar fazer um desses artigos de auto-ajuda, mas um pouco diferente, selecionando algumas frases de grandes filósofos e personagens históricos da nossa cultura.

"Talento é 1% inspiração e 99% transpiração."
- Thomas Edison

Treinar, treinar e treinar. Ninguém fica bom no Magic do dia para a noite. Muita gente criticou o Casatti quando ele ganhou o campeonato brasileiro do ano passado e admitiu que não havia treinado nada. Porém para ele chegar neste nível, aposto que em alguma época de sua vida ele treinou bastante, aprendeu muitos conceitos que não vão embora assim que o T2 rotaciona. Muitos de vocês estão no colégio e faculdade ainda. Essa é a melhor época para aguçar as suas técnicas, porque quando a vida de estudante termina, você acaba tendo outras responsabilidades e o trabalho/família vai consumir muito do seu tempo. Não desanime se depois de muito treinar os resultados não apareçam no primeiro campeonato que você jogar. Ano passado eu e o Thorgrim treinamos muito para os regionais. Nenhum de nós conseguiu ganhar a vaga para o nacional, mas aprendemos muito e bons resultados foram ocorrendo. Day 2 no GP Buenos Aires, Top8 em PTQs. Todo esse conhecimento acumulado foi importante para que alcançássemos esses pequenos sucessos.

"Se você conhece o inimigo e conhece a si mesmo, não precisa temer o resultado de cem batalhas. Se você se conhece mas não conhece o inimigo, para cada vitória ganha sofrerá também uma derrota. Se você não conhece nem o inimigo nem a si mesmo, perderá todas as batalhas..."
- Sun Tzu

Como o foco são os regionais, não tem analogia melhor do que essa. Conhecer a si mesmo é conhecer o seu deck. Isto não é simplesmente saber quais as 75 cartas que você vai listar na ficha de inscrição, mas saber o porque da escolha de cada carta. Muitas pessoas simplesmente fazem aquela chupinhada no deckcheck, e nem sabe direito qual é o seu plano de jogo, quais as partidas em que ele tem que ser agressivo, ou as partidas em que ele tem que ser mais paciente e tentar controlar a mesa primeiro. Isso só se consegue após muito treino. Conhecer o inimigo, nesse caso o deck do oponente/metagame, é outra etapa importante. Isso me lembra uma história dos regionais de 2007. Aconteceu lá em Sorocaba e na véspera do regional o Patrick Chapin escreveu um report sobre o Korlash Control que ele havia criado e usado para ganhar um regional. Muitos acharam a lista dele fantástica e sem testar corretamente, só acreditando nas palavras do Chapin, montaram o deck e levaram para o campeonato. Na época um dos decks mais populares em São Paulo era o Gruul e o Korlash Control tinha sido feito para ganhar do “deck to beat”. Porém esse era apenas 1 dos “inimigos”. Diferentemente dos EUA, o Angelfire era um deck muito popular por aqui, e com acesso ao Boom/Bust o deck do americano era uma presa fácil. Após o término do regional, vi muita gente reclamando do deck do Chapin que ele era horrível, mas na verdade ele era um deck que não era o ideal para o metagame em Sorocaba.

"Aos ricos, o FAVOR da lei, aos pobres, o RIGOR da lei."
- Jose Rainha Jr.

Vamos falar sobre os nossos Judges. Muito jogador tem a sensação que os juízes sempre beneficiam os jogadores mais famosos na hora de dar uma ruling, ou saem falando que só porque o juiz é amigo do seu oponente ele te prejudicou. Bem, regional não é que nem FNM ou qualquer champ de fundo de quintal. Seu oponente tem o objetivo de vencer a partida e qualquer brecha que você der, ele usará para se beneficiar, principalmente quando o assunto é interpretação das regras. Aqui a experiência em campeonatos grandes ajuda esses jogadores mais “famosos” porque eles sabem se comunicar com os juízes de uma forma clara. Muito jogador novo pode até estar com a razão, mas se não souber explicar claramente o que aconteceu para o juiz ele não tem como adivinhar o que ocorreu. Isso é uma coisa que só se aprende com o tempo. Juízes também erram, e se você não concordar com alguma decisão deles, não fique tímido e chame pelo juiz-Mor. Outra coisa que acontece muito é jogador que acha que juiz tem mania de perseguição com ele, assim como muito aluno de colégio acha que o professor de matemática está pegando no seu pé só porque você sempre dorme na aula dele. Creio que isso é tudo uma questão de relacionamento, e nada melhor que citar Sun Tzu mais uma vez: mantenha seus amigos perto e os inimigos mais perto ainda. Brincadeiras a parte, os juízes não são tão malvados assim, eles estão la para garantir o bom andamento dos jogos e do torneio. Os jogadores que criam problemas, os juízes estão la para tentar resolvê-los.

"O medo de perder tira a vontade de ganhar."
- Wanderley Luxemburgo

Grande Luxa, o filósofo da bola. Essa frase se encaixa muito bem com algumas situações de jogo que eu vivenciei. É algo muito sutil no jogo de Magic, mas muita gente não da a atenção devida (eu me incluo aqui). Quem aqui que nunca esteve numa situação de jogo, onde deixou de fazer uma jogada que ganharia o jogo com o medo de tomar um counterspell ou uma remoção na criatura e por causa disso o jogo se inverteu e você acabou perdendo a partida? Essas situações são muito parecidas com algumas jogadas do poker, o “pot odds”. Não vou entrar muito afundo nisso, mas simplificando é um cálculo de custo/benefício de se fazer tal jogada. Maior exemplo disso era uma discussão que eu tinha com o Bertu (não da para falar sobre teoria sem citar os exemplos do Bertu!), sobre fazer Bitterblossom no mirror, quando você está no draw e seu oponente passa com 2 manas aberta no 2° turno. Você tem a opção de fazer a Blossom e correr o risco de tomar um Broken Ambitions:

“Quando você é noob, você faz 2 manas blossom, já que você não pensa no que o oponente pode ter.. quando você melhora um pouco o seu jogo você acha que sabe o que ta fazendo e não faz a blossom por receio do counter.. ai quando você vira macho, você vai e faz a blossom de novo, porque essa é a melhor jogada a se fazer.. só tem 4 cartas que podem te impedir disso e a chance do oponente ter elas vale o risco de se fazer a blossom.” - Bertu

Entender esta relação de custo/beneficio e ter culhões de arriscar uma jogada que vai te fazer ganhar ou perder o jogo é o que divide os jogadores bons dos medíocres. Certas jogadas não são automáticas. Quando o Manuel Bucher fala que o certo contra fadas é usar o Esper Charm para comprar 2 cartas ao invés de destruir a Bitterblossom não significa que você sempre vai fazer esta escolha. O fascinante do Magic é esse poder de fazer escolhas. Quando o Nassif escolheu não fazer o Negate anulando a Ajani na final do PT ele fez uma escolha, e essa escolha acabou sendo correta para aquele momento.


Isso aqui ficou parecendo um monte de filosofia de mesa de boteco, mas é assim que eu aprendo sobre Magic, escrevendo e discutindo. De tanto pesquisar sobre esses filósofos e “pseudo-filósofos” acho que me animei em fazer um especial só sobre Sun-Tzu “A arte da Guerra”. Felipão quando levou a seleção rumo ao penta levou esse livro na viagem e deu no que deu. Deve ter mais coisas para aprender com este chineis maluco ai. Na pior das hipóteses eu fico aqui fingindo ser um cara culto com um monte de frases de efeito :)

Até a próxima.

5 comentários:

  1. muito bom esse artigo, incrivel mesmo, parabéns

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  2. esse artigo está muito bom mesmo. Citar tantas fontes de tão diversas e distintas épocas é algo complicado, mas vc fez isso com maestria. Parabéns.

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  3. Realmente muito bom o artigo, sobre Sun Tzu me lembro q o Alemão do BBB leveo esse livro para a casa e levou o premio maximo!!!

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  4. Sun Tzu eh a tech entaum....

    vou ler now.

    PS. Muito bom o artigo ;D Parabéns mesmo pelo blog, tah muito show.

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  5. Uhul!
    Vamos todos ler Sun Tzu e usar a Tech dele que deu certo pra tanta gente... Axo que no Magic vai rolar tbm!

    Sobre o post parabéns!

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