terça-feira, 29 de julho de 2008

Onde estão os Deckbuilders?

por Leandro "Stalker"

Quando eu conheci o magic, a parte que eu mais gostava era de criar decks. Naquela época eu tinha poucas cartas, grande maioria vindas de booster comprados com aquela mesada do papai. O ano é 1998, estou na sétima série e nos intervalos de aula rolava umas partidas de magic com outros dois amigos meus. As vezes o bedel do colégio ficava de olho na gente, pra ver se não tava rolando aposta. Jogar podia, apostar não. DCI, Pro Tour, Regional eram termos que eu desconhecia até então. O divertido era montar aquele deck que ganhasse do meu amigo, mas um deles estava sempre um passo a nossa frente. Enquanto eu tinha meu “super deck” UR de phanton warrior+counter+burn, este meu colega aparecia com um deck de cabrito montês e dava na minha cara por causa do mountain-walk. Que tempos aqueles!


Magic competitivo, sancionado, com DCI e tudo mais, eu só fui descobrir no final de 2006. No começo eu não era adepto do netdeck e criticava quem fazia. Eu acreditava que montar o seu próprio deck era uma forma de mostrar a sua qualidade no jogo, mas na verdade eu quase não tinha carta T2, e meus decks eram uma mistura de cartas comuns, com 2-3 cartas raras no máximo. Com o tempo, descobri a ligamagic, e conseqüentemente o MWS... Para quem gostava de criar decks, não tinha software melhor. Horas e horas pesquisando na masterbase por aquela carta que faltava no meu deck da saprófitas. E voi-lá, descubro uma carta chamada Escudo de Armas. Testes e mais testes pra sentir o que faltava no deck, chego na lista que eu achava perfeita, ganho um torneiozinho na Ligamagic (época em que tinha torneios), Ai, semanas antes de começarem os regionais, eu amarelo, abandono o deck e abraço o netdeck. Só precisava gastar uma graninha pra pegar um set de Stomping Ground que eu conseguia fechar o meu Gruul. Versão budget é claro. Já que do gruul tradicional ia só o Kird Ape e o Scab-Clan mesmo... Bom, porque que eu fiz isso? Ou melhor, porque as pessoas fazem isso?


Um nipo-brasileiro, grande filósofo do jogo, me disse certa vez que isso ocorre aqui no Brasil, pela falta de campeonatos grandes. Com poucos campeonatos grandes ao longo do ano as pessoas têm medo de se arriscar com listas novas e preferem o netdeck. Ficamos restritos somente aos regionais, enquanto o resto do ano é preenchido somente com FNM ou campeonatos em lojas que raramente são sancionados.

No Japão, a comunidade de magic é bem forte, com vários campeonatos, drafts, GP todo ano. E como qualquer cidade de lá tem a sua lojinha de magic, imagine centenas e centenas de japoneses botando a cabeça pra pensar e dezenas de campeonatos todas semanas. É uma orgia de decklists bizarras, porém eficientes. Uma hora essas idéias de deck novos chegam aos ouvidos dos pro-players, que abraçam decklists inovadoras, adaptam e as levam para o circuito profissional. Outro ponto importante é o poder econômico no Japão. Para fazer um comparativo, enquanto aqui no Brasil a taxa de inscrição de um campeonato é em torno do preço de 1 booster, no Japão essa taxa varia entre 4-5 boosters.


Eu acredito que a falta de deckbuilders aqui no Brasil está na falta de uma comunidade mais forte voltada para esse objetivo e também por uma falta de tempo misturada com uma parte financeira. Exemplificando isso, eu quero dizer: Bom, os melhores jogadores de magic no Brasil, com exceção de alguns, são caras mais velhos, que estão fazendo faculdade, trabalham e não tem tanto tempo assim para mergulharem de cabeça no deckbuilding. Por outro lado, a molecada que tem este tempo livre para fazer isso ou não tem dinheiro para por suas idéias de deck em pratica, ou o mais comum, não tem a experiência necessária para quebrar o ambiente com um deck inovador. No entanto, tanto para o jogador experiente quanto pro molequinho é mais fácil pegar uma lista pronta, adaptar um pouco do sideboard e testar algumas partidas contra os decks to beat. Não estou desmerecendo quem faz isso, é apenas uma escolha tática. A maioria gosta deste estilo Parreira, de continuar com o que já deu certo, enquanto outros se arriscam no Carrossel Holandês.


Com a chegada de Eventide, mudanças ocorrerão. Eu sempre gosto dessas épocas de transição, quando o formato está para sofrer grandes transformações. É a hora de botar o tico e tico pra funcionar. Nos últimos dias eu tenho trabalhado num deck novo, já me preparando para a chegada de Eventide. Já foram algumas horas gastas elaborando dezenas de listas diferentes, mais outras horas de playtests, mexi na base de mana um monte de vezes até diminuir a influencia da zica. A lista final ainda não foi aprovada, mas assim que eu tiver resultados de algum torneio eu posto um report e também um artigo sobre todas as etapas de deckbuilding que eu passei. Bom, e se tudo der errado? Bom pelo menos eu tentei. Não tinha uma vinheta da Globo que dizia: Tente, invente, faça alguma coisa diferente?

Para os que gostam de se arriscar nesta área, o que eu posso dizer é que o processo de deckbuilding é lento, demorado, várias vezes você acha que a lista está ficando boa e de repente você abandona tudo e volta a estaca zero. Gasta-se um bom tempo até balancear a base de mana, acertar a curva, o número exato de drops 2, 3, etc. Até chegar a hora de tomar a decisão mais dificil quando finaliza o deck: Será que ele está pronto para ganhar um campeonato?

Não se intimide com o que os outros vão pensar do seu deck, o Flores mesmo disse que para se fazer um deck bom, é preciso fazer 20 ruins. Quanto mais você praticar em construir listas novas, mais rápido você percebe se está indo para o caminho certo ou errado. Outra coisa importante é sempre estar de olho no metagame, pois se o seu deck não estiver ganhando dos tier1, então melhor mexer novamente na lista. Então libere o professor Pardal de dentro de você e bote essa cuca para funcionar!

5 comentários:

:: Diego Ghiggi disse...

Muito bom o texto.

A parte sobre o grande motivo do chamado netdeck é BEM verdade.

Top Players não tem tempo pra criar decks, e quando tem preferem treinar.

Os jovens com mais tempo livre são mais ousados, mas não tem experiência suficiente pra formular algum deck com chances no ambiente.

É um assunto beeem complexo, vale ser discutido.

Abraços!

Anônimo disse...

Você está completamente certo. A falta de torneios sancionados fazem com que os jogadores prefiram o garantido do que tentar inovar. Eu sou um dos que tenta inovar nos FNM e honestamente sempre( ou quase sempre) tomo ferro, mas na hora dos regionais ou GPs prefiro a boa e velha netlist para tentar garantir uma boa posição. Tenho certeza de que muitos pensam da mesma forma.
Aproveito para parabenizar pelo blog. Como vc disse, no Brasil não temos um lugar para discutir as listas, jogadas e o vasto mundo de Magic, mas tenho a impressão de que vc deu o primeiro passo. CONGRATZ e não pare por aqui, KEEP GOING!!!

[]s

Danyel Henrique disse...

Mto bom o post! concordo em td!

a parte da escola, é sem duvida a q mais deixa lembranças felizes, dpois é soh tragedia =p

otimo blog! abraços!

Carlos Alexandre disse...

Pow ae, eu li o topico anterior so que eu esqueci de comentar...
Mas gostei muito desse topico e acho vdd sim, muitos tem medo e outros não tem tempo de criar novos decks e techs...

Pow ae o blog ta maneiro a lot... continuem postando ae...

Abração by Batutinha

Anônimo disse...

Ae

mto bacana o flog!! e isso q vc falou ai é verdade!
parece q o pessoal tem um pouco de preguiça pra pensar numa estratégia nova pra um deck... é mais fácil copiar d alguém que já fez isso e pronto
por isso que qdo tem campeonato fica chato de jogar, vc já sabe o que vai enfrentar.

abraço