quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Entrevista: Vagner William Casatti


por Ricardo "Thorgrim" Mattana


Segue a entrevista que eu fiz na noite desta quarta-feira com o Vagner W. Casatti, Campeão do Nacional de 2008. Além de ser um ótimo jogador, o Vagner me pareceu ser uma ótima pessoa, sendo muito atencioso e respondendo rapidamente o batalhão de perguntas que eu sempre faço.

Em breve o blog terá ótimas novidades, além de uma constante atualização, agora que minha agenda anda um pouco mais tranquila.

Vamos a entrevista...

Thorgrim: Primeiramente, gostaria de agradecer por conceder essa entrevista aqui para o nosso blog e parabenizá-lo pela conquista.

Casatti: Obrigado, eu que agradeço.

Thorgrim: Antes de qualquer coisa, algumas perguntas básicas para os nossos leitores conhecerem melhor o Campeão Nacional de 2008. Fale seu nome, idade e o que faz fora do Magic.

Casatti: Vagner William Casatti, 24 anos, estou no último período de Direito na PUC-PR.

Thorgrim: Como você conheceu o jogo?

Casatti: Quando eu estudava no primeiro ano do colegial, dois amigos que estudavam comigo (o Michel "Jesuis" Delespinasse e o Mark Rul) me mostraram o jogo.

Thorgrim: Desde quando começou a jogar competitivamente?

Casatti: Acho que alguns meses após começar a jogar, entrei no meu primeiro campeonato na Itiban (loja localizada em Curitiba). Era um deck RG, cheio de Fogs, Giant Strenghts, Raging Goblins e Scryb Sprites (foi essa minha primeira carta de Magic). Na época, eu dava as Fogs em Lightning Bolts, Stroke of Genius, etc. Pra mim, FOG era o NUTS!

Thorgrim: Antes desta conquista inédita, quais haviam sido os seus principais resultados?

Casatti: Basicamente, eventos Construídos. Ganhei o PTQ Veneza, PTQ Charleston (Trios, com o Robson Silveira e o Elton Fior), um Top 8 no Nacional de 2004 ou 2005 (não me recordo agora), Top 16 no GP Curitiba em 2001, Top 64 no GP Rio também em 2001, Top 16 no GP São Paulo e Top 32 no GP Porto Alegre.

Thorgrim: Qual seu formato preferido e por quê?

Casatti: Constructed, pricipalmente Extended. Curitiba é um dos lugares onde o Extended é/foi mais jogado. Gosto de jogar com cartas antigas, me divirto fazendo Fact or Fictions, Flametongue Kavus ou Wild Mongrels. Agora, com a rotação de algumas edições, tenho que esperar pra ver como vai ficar o novo Extended.

Thorgrim: Existe algum jogador em que você se espelha?

Casatti: Eu não leio muito sobre o perfil dos jogadores - como eles jogam, como agem durante as partidas, etc - mas, o jogador que eu gosto de ver por aí é o Jon Finkel. Ele dominou completamente a época em que eu mais me dediquei ao Magic. Gosto do livro dele, Jonny Magic and the Card Shark Kids. É um livro que vale a pena ler, além dele citar meu teammate Elton, o que é uma honra!

Thorgrim: Além deste lado competitivo, quais outros fatores te atraem no Magic?

Casatti: Eu tinha deixado pra lá o lado competitivo do Magic. Para mim, quase formado e jogando Poker sempre que posso, Magic tinha se tornado uma diversão.

Uma das coisas que eu mais gosto de fazer, é jogar deckão. Pra quem não sabe o que é um deckão, eu vou explicar.

De tempos em tempos, o Ivan Fox, pega uns 400 shields e começa a montar um deck com one of a kinds, ou seja, uma carta de cada (das boas). Daí, joga normal, comprando do mesmo deck. Cartas que buscam coisas no deck (tipo tutores) ou arrumam o topo (como o Sensei´s Divining Top) normalmente não são usadas. É aí que o jogo se expande, com milhares de cantrips (cartas que fazem algum efeito e compram outra carta), criaturas monstruosas nunca usadas antes, etc.

Há uns 2 meses atrás, resolvemos jogar isso no formato 2HG (Gigante de duas cabeças), passávamos horas jogando. Tinha dupla que esperava 2 horas pra jogar, pois os jogos facilmente demoram mais que uma hora. Jogar um deckão, comendo uma pizza e tomando uma coca-cola (ou cerveja), realmente é uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida.

Diversas vezes a gente chegou a jogar até o amanhecer, sem ter visto a hora passar. O último deckão possuía infinitas cartas Extended, porém, o Tidings teve que ser banido, pois abusava do late game

Thorgrim: Você possui alguma superstição quando vai jogar algum torneio?

Casatti: Não, nenhuma. Apesar de eu ter feito o sinal da cruz em todos os jogos desse Top 8.

Thorgrim: Como é jogar um campeonato, como o Nacional, que possui dois formatos distintos? Existe uma preparação psicológica especial, para se desligar de um formato e voltar sua atenção para o outro dentro das rodadas?

Casatti: Como dito anteriormente, eu gosto de jogar Constructed e, por consequência, ODEIO LIMITED. Toda vez que eu tenho que jogar um Draft ou Selado, fico ansioso, mas isso acaba quando pego a primeira carta. Acho que é possível você se concentrar no que está fazendo, seja lá qual for o formato.

Thorgrim: Como foi sua rotina de treinos para este Campeonato Nacional?

Casatti: Praticamente nenhuma. Depois do Mundial do ano passado, eu joguei apenas dois FNM, não fui nem para o GP Buenos Aires, pois tinha decidido não jogar mais Magic. Quando alguns amigos me chamaram pra ir pra São Paulo, resolvi realmente ir. Passei algumas noites comendo porcarias e jogando um pouco de Standard. Fora isso, vi o Sérgio Winnik e Diogo Aires jogarem dois drafts no Magic Online.

Thorgrim: Apesar do pouquíssimo treino para este Nacional, quais são seus principais parceiros de treino?

Casatti: Jogadores de Magic, assim como tudo na vida, vai e volta. Os caras que jogam comigo hoje em dia são: Rafael Riet, Ivan Fox, Sergio Winnik, Leonardo Graichen, Diogo Moraes, Rubens Campana, Ícaro Branco, João Dannemann, Thiago Chemin, Alexandre Ando, Fernando Okada, Fabiano Lucindo, Carlinhos Creveloni, alguns jogadores de Joinville, entre outros.

Thorgrim: Por que você optou pelo UW Blink no Constructed? Quais decks você esperava enfrentar no Nacional?

Casatti: Eu queria jogar de Kithkins, mas como todo mundo daqui de Curitiba resolveu ir de UW, eu fui também. Além do mais, faltavam algumas cartas para eu fechar o deck de Kitikos.

Eu esperava pegar qualquer coisa que não fosse Faeries, pois eu acho o deck horroroso e pensei que ninguém fosse jogar com ele. No fim das contas acabei pegando quatro delas durante o campeonato.

Thorgrim: O ambiente que você encontrou no Nacional bateu com suas previsões ou algo te surpreendeu?

Casatti: Eu imaginava encontrar muitos Mono Red e UWr Reveillark, algo que não vi em tão grande número. O BG Control (BG Elves by Nakamura), que era o deck mais jogado no Nacional, eu nem sabia que existia.

Thorgrim: Qual era seu plano para os drafts de SSE? Apesar de não ter treinado muito, alguém lhe deu alguma dica para o formato? Quais tipos de deck você conseguiu draftar?

Casatti: Mono Red. Draftar o máximo de criaturas 1/1 que não deixam bloquear (Intimidator Initiate). Essa era a estratégia que me ensinaram ^^.

Fiz um deck desses no primeiro draft, fazendo 3-0. Depois fiz um RG todo torto, que fazia um 5/5 Flying com retrace, daí fiz 2-1. Eu nunca tinha visto as cartas das edições, não sabia o que quase nada fazia, portanto tive que ler correndo, já que o draft esse ano me pareceu TURBO!

Thorgrim: Em qual rodada você começou a acreditar no título?

Casatti: No final da 15ª. Nunca mais eu comemoro algo antes do fim.

Thorgrim: Algum problema no passado com essa história de "comemorar antes do fim"?

Casatti: Uma vez eu estava em 5º no Nacional, faltava a última rodada. Eu jogava com um GW Beasts (Baloths, Exalteds, Worships, Beast Attacks) e fui paired contra o Cristiano do Rio. Ele tava de RG Aggro e o match era 80% favorável pra mim.

Comecei a comemorar o top 8, porém no Featured Match, o Cristiano vira pra mim e fala: "VOU TE FUMAR" AEIAHEIUHAUIEHUAIEHIE... Dito e feito, ele ganhou e foi para o Top 8 enquanto eu fiquei em 10º ou algo assim.

Thorgrim: Qual foi o jogo mais difícil deste Nacional e por quê?

Casatti: Certamente foi a final. Um 3-2 muiiiito apertado. Eu não sabia o que aquele deck fazia, o que ele usava de sideboard contra mim, coisas assim.

Thorgrim: O que você achou da seleção brasileira que se formou esse ano? Conhece os seus companheiros de seleção?

Casatti: O Willy é conhecido de todos por causa de seus bons resultados. O Leopoldo é um grande amigo, desde quando tínhamos 16-17 anos e éramos conhecidos por Sucrilhos.

Diziam que a gente comeu muito Sucrilhos quando pequeno, porque nós tínhamos cara de moleque e 1.90m com 16 anos. O Leit vem fazendo grandes resultados esse ano. Portanto, espero que seja um bom Mundial para a seleção brasileira.

Thorgrim: Tal resultado te anima a voltar a levar o Magic mais a sério ou o Poker, entre outras coisas ainda continuam sendo prioridade na sua vida?

Casatti: Então, eu estou meio confuso no momento. Tenho que terminar a faculdade esse semestre pra fazer a prova da OAB e me tornar um advogado criminal. Mas descobri que os invites pro Pro Tour Berlin saem dia 17 e agora estou no Top 100 mundial.

Estou pensando em ir para Europa, jogar o GP Paris e o Pro Tour Berlin. Mas, com isso, vou ter que faltar 15-20 dias de aula, o que vai me fazer perder a chance de me formar esse ano.

Agora eu não sei se eu termino esse ano jogando esses torneios e o Mundial, como forma de despedida, ou simplesmente vou para o Mundial sem treinar quase nada por ser a época de provas finais.

Thorgrim: Quais as vantagens que um jogador de Poker tem ao jogar uma partida de Magic?

Casatti: Eu jogo Poker apenas online, daí não sei se tem alguma vantagem. Eu blefo muito no Magic, mas isso desde os primórdios. Na final, eu ficava virando quatro manas para representar um Cryptic Command e acabava dando um counter qualquer. Faço isso bastante. Quem sabe o oponente começa a jogar em torno da carta e muda suas jogadas, me dando alguma vantagem.

O mesmo acontece com os Mana Tithes do Kithkins, os quais o Fabiano Lucindo nunca colocava para dentro, mas deixava sempre a Planície de pé contra seus oponentes. Pode ter certeza que ninguém que já tomou um Force Spike na vida, dá uma Wrath of God no turno 4 de novo.

Thorgrim: Você possui algum conselho para quem pretende jogar competitivamente no Brasil e almeja jogar o Nacional?

Casatti: Jogar bastante Magic Online. Lá, você pode ter suas principais dúvidas sobre regras respondidas, tem um ambiente variado, drafts a todo o momento. Fora isso, jogar todos os PTQs possíveis, para conseguir vaga por ranking, pois o Free For All é dangerous! Viajar pra jogar um torneio de eliminatória simples é coisa de MACHO!

Thorgrim: Deixe um último recado para nossos leitores

Casatti: Bom, seja pra jogar competitivamente ou não, Magic é uma ótima coisa pra se fazer. Quer ser um campeão? Treine bastante, leia artigos. Quer jogar na brincadeira? Ótimo, esse é o seu lugar. Passe horas jogando formatos aleatório com seus amigos.

Amigos... Sem dúvida alguma, esse é o principal fator de lembrar que Magic é uma coisa boa na minha vida. Posso contar nos dedos os amigos que tenho contato da escola, do colégio, do futebol. Mas, meus amigos do Magic, vira e mexe estão comigo numa festa, na praia, em muitos lugares. Fora os que já citei acima, vale lembrar dos que não jogam mais, mas fizeram parte do meu desenvolvimento como pessoa e no jogo de monstrinhos. São eles: Atog, Capota, Gordo, Caloro, Contchudo, Galo, Daniel, Negrini, Salsicha, Xiprauski, os MMs e outros que não me recordo agora (mil desculpas).

Obrigado a todos que torceram por mim e me deram os parabéns pela conquista.

Thorgrim: Obrigado novamente pela entrevista e parabéns pela conquista merecida!

Casatti: Ah, antes que eu esqueça, pretendo fazer um blog sobre Poker e Magic neste final de semana, até o fim do ano eu pretendo postar sempre.

Thorgrim: Abraço!

Casatti: Abraço!

3 comentários:

Anônimo disse...

Legal a entrevista, eu só não sei se eu fico triste ou feliz por saber que um cara que não treinou nada ganhou o natz.

Anônimo disse...

Eh o Casatti...

Papo sério, essa desgraça aí não precisa treinar... O cara nasceu pro jogo... =/

Michel de Lespinasse disse...

É... em pensar que ensinei essa praga a jogar e o meu melhor resultado em campeonatos grandes foi um 16º colocado na final do falido DIM de nem me lembro que ano... hahahaha
Parabéns Casatti, nem sabia que vc tava com toda essa bola de novo! :)

Abraço, "Jesuis"