segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

As lições de um velho jogador

por Ricardo "Thorgrim" Mattana

Dezembro, além de ser o mês em que celebramos o Natal, o início das férias e o final de mais um ano, é também o mês em que paramos para pensar em tudo que se passou nesses últimos doze meses, em todos os nosso acertos e erros, o que devemos fazer para melhorar e o que nós devemos guardar para a prosperidade.

Após ler um comentário do Jorge na Ligamagic, onde ele me questionava se eu estava levando o jogo muito a sério, resolvi refletir um pouco, não só sobre os meus últimos doze meses, mas refletir a respeito de toda as horas que acabei gastando com o jogo.

Tive meu primeiro contato com o Magic na década de 90, a última edição que havia sido lançada era Legado de Urza e lembro de imaginar que o jogo era uma espécie de Super Trunfo um "pouquinho" mais complexo.

Naquela época Magic era um jogo bem mais complicado de se aprender. Não sei se pelo número de jogadores, que era bem menor do que o atual ou pela falta de informação, mas essa é a impressão que eu tenho depois de tanto tempo neste mundo.

Lembro que fui com o meu irmão e minha mãe a antiga Merlin da Pamplona e lá nós compramos um kit de Portal, que vinha com dois decks, uma espécie de Spellground, que explicava algumas zonas do jogo como cemitério, local onde colocar os terrenos e os baralhos, além de um pequeno manual explicando as principais regras do jogo.

Regras como enjôo de invocação, limite de quatro cópias de cada carta no deck e termos como Tipo 1 , Tipo 2 e Tipo 4 foram aprendidos meses após eu ter começado a jogar.

Após passar aquela fase de jogador de recreio da escola e de campeonatos com os colegas do prédio (no meu caso condomínio), passei a freqüentar a Merlin e me igualar à maioria dos jogadores daquela época.

Magic parecia ser um jogo muito menor do que é hoje. Eu não tinha a mínima idéia do que era um Pro Tour, Gran Prix ou Mundial, jogava os campeonatos sem saber exatamente o que eles ofereciam; diversão e a oportunidade de ganhar alguns boosters eram os maiores incentivos da época.

Assim como muitos, tinha uma ligeira noção do Metagame, que na época era constituído por decks como o Fires, Blue Skies e o Counter Rebel, além de começar a me interessar pelos principais sites que abordavam o jogo. Lembro que minhas principais fontes de informação eram o Sideboard.com, The Dojo e a Neutral Ground, além dos fóruns da Magicbr e do SJC Team.

Como sempre morei bem longe das principais lojas de São Paulo e ainda era muito novo, sempre foi difícil acompanhar o calendário dos principais torneios da cidade. Desta forma, acabei dando um tempo com o jogo para me dedicar ao Counter-Strike, uma das febres do momento.

Assim que o Counter-Strike deixou de ser a sensação que era, acabei voltando a jogar no finalzinho de 2002, com a desculpa que desta vez levaria o jogo mais a sério e mandar bem nos Regionais era uma das minhas prioridades.

Neste período conheci a Ligamagic e resolvi me arriscar escrevendo alguns Artigos para a galera. Em pouco tempo me tornei redator do site e descobri uma das minhas grandes paixões da atualidade, a redação. Quem é da “velha-guarda” da Liga, vai lembrar dos meus textos sobre o Moldy Hermit e da zona que rolava no canal do mIRC.

Mais uma vez devido à distância da minha casa as principais lojas de São Paulo, sem contar no aumento gigantesco dos preços das cartas, voltei a dar um tempo no jogo.

Após mais alguns anos distante, resolvi voltar a jogar no começo de 2007, com a velha desculpa de que desta vez treinaria pra valer. Bem mais maduro e com idade suficiente para me deslocar por toda São Paulo, escolhi o Gruul como baralho a ser utilizado na temporada de Regionais.

Meus dias de treino se resumiam as minhas idas à casa do Tarzam e aos infinitos jogos que rolavam na net. Devo ter jogado umas 500 partidas com o deck no Magic Workstation com aqueles gringos casuais que aparecem com qualquer tranqueira existente no formato, até definir a lista final. (Atualmente, mais maduro no jogo, chega até dar vergonha desses treinos, pois o que na época eu imaginava ser o treino mais completo do mundo, não chega nem perto do que eu jogo hoje).

Voltando a 2007, eis que o (in) provável aconteceu, depois de fazer 7-1 no suíço do primeiro Regional da Devir, ganhei do Leozerah e depois do Pikanso conquistando a minha primeira vaga para o Nacional.

Acho que foi uma das melhores sensações da minha vida. O jogo acabou e só lembro do Dick e mais um monte de gente que eu não conhecia me parabenizando pelo resultado. A ficha demorou infinito para cair e flashes sobre todas as partidas do campeonato vinham a minha mente durante o próximo mês inteiro, acho que até hoje. hehe

Aproveitando o resultado, escrevi um Report contando todos os detalhes da conquista e o texto acabou fazendo certo sucesso lá na Ligamagic. Diversas pessoas que eu nunca tinha visto na vida vinham falar comigo pessoalmente ou via pmsg, contando que começaram a jogar de Grull só por causa do meu Report. (Saber que pessoas se espelham no seu texto para jogar com algum deck ou para evoluir no jogo é um dos maiores estímulos para quem escreve artigos constantemente).

Passado o Regional, minha próxima meta era conquistar um bom resultado no PTQ Block que ia ser realizado no Rio de Janeiro. Lembro de ter jogado bastante com o GW Goyf, mas o resultado foi o pior possível - 0-1-2 drop e uma volta frustrante para casa.

Foi depois deste PTQ, que comecei a entender um pouco mais sobre o universo do jogo. Pude perceber que a diferença entre Regional e PTQ era gritante e que existiam diversas pessoas muito mais preparadas do que eu para aquele evento.

Por mais que eu tivesse jogado bastante com o deck, jogos casuais e treinos sem uma metodologia decente eram insignificantes caso eu quisesse conquistar um resultado mais animador.

Passado o PTQ, tive mudanças significativas na minha vida pessoal, pois tinha voltado pra faculdade e arrumado um emprego bem legal em uma Agência. Juntei o desânimo com o resultado do Rio de Janeiro, mais o pouquíssimo tempo que eu tinha para me dedicar ao jogo e abri mão de jogar o Nacional para comemorar meu aniversário em Itu com uns amigos e posteriormente dar mais um tempo no Magic.

Posso dizer que a lição que eu aprendi depois deste PTQ é que não devemos desanimar e jogar tudo pro alto caso o resultado do campeonato seja total diferente do que você imaginava. Tem dias que simplesmente dá tudo errado e o certo mesmo é nem sair de casa.

Conheço pessoas que treinam o dobro do que eu treino, mas na hora do campeonato é um desastre completo. O importante é saber que o treino pode não garantir um resultado imediato, mas lá pra frente você será recompensado de uma maneira ou de outra.

Após uma breve pausa no jogo, o Stalker surgiu no final do ano passado com uma proposta bem interessante de uma equipe de jogadores que estavam dispostos a levar o jogo mais a sério e isto me animou novamente a jogar.

No começo foi tudo dando muito certo, passei os primeiros meses do ano (pré-Regionais) jogando diversos campeonatos de menor expressão e conquistando sempre bons resultados. Senti-me bem mais preparado do que na temporada de 2007 e as expectativas para os Regionais eram as melhores possíveis.

Desta vez, o deck escolhido para a temporada foi o BG Elves e após um resultado não muito bom no primeiro Regional da Devir, chegou o dia do Regional de Rio Claro.


Fui eliminado no Top 4, devido aquele episódio que muitos conhecem e para quem não se lembra, aconselho entrar lá na Ligamagic e procurar por ele. Tal episódio já foi superado faz muito tempo (sem ressentimentos Ertai), mas na época foi quase que determinante para eu novamente dar um tempo no jogo.

Depois do ocorrido, ao invés de tirar proveito dos meus treinos e continuar me dedicando, desanimei bastante com o jogo e comecei a jogar os Regionais da pior maneira possível. A parte que diz respeito ao jogo em si, eu estava bem treinado, porém meu psicológico estava bem abalado e passei a levar o jogo não tão a sério como deveria.

Foram diversos Regionais que joguei sem dormir, varado de alguma balada ou festa, de ressaca e por aí vai. Para alguns jogadores, tal fato é insignificante, mas para mim funciona como uma bola de neve. O sono e o cansaço físico me levam a cometer erros infantis, não ficar tão atento quanto deveria, resultando em resultados medíocres para as minhas pretensões.


Eis que veio o GP Buenos Aires, meu primeiro grande campeonato e um dos resultados que eu mais me orgulho no jogo. Só depois de jogar um campeonato de tal magnitude que eu fui entender o quão grande é o jogo e como ele me fascina.

Como eu sempre fui empenhado no jogo e estou em constante busca por melhores resultados e por evoluções na maneira de jogar, ter a oportunidade de jogar com jogadores tão bons no segundo dia do evento, foi uma experiência única.

De Buenos Aires para cá, ainda joguei o FFA e o PTQ Kyoto que foi disputado em São Paulo. Ambos os eventos, pude jogar bem mais maduro e muito mais convicto das minhas ações durante as partidas. Uma das grandes lições que aprendi em Buenos Aires, foi que, por meu inglês e espanhol serem péssimos, eu tinha que ser muito mais transparente em minhas jogadas do que o habitual.

Isso me ajudou muito, pois atualmente posso dizer que raramente cometo algum erro infantil, como descer algum terreno errado, esquecer de atacar com uma criatura ou fazer algum efeito no final do turno do oponente. Por mais banal que seja esse tipo de coisa, erros por desatenção e por falta de foco na partida são muito mais corriqueiros do que parecem.

Neste período, acabei deixando a equipe que eu havia entrado no começo do ano (Aliás, sou muito grato por tudo que aprendi nesses meses) e meus grandes companheiros de treino atualmente são os jogadores que freqüentam a #mtg.br e a Magic Domain.

Fora algumas das lições que eu já comentei nesse texto, existe outra série delas que aprendi nesses dez anos de jogo e tentarei compartilhar com vocês três fatos que eu acredito serem fundamentais para você crescer no Magic.

1 – Dedicação e MUITO treino

Se você pretende crescer no jogo, não tem jeito, é preciso se dedicar muito a ele e aproveitar ao máximo suas horas disponíveis para o jogo. Não adianta jogar aleatoriamente como eu fazia no início da carreira, uma metodologia de treinos é fundamental para você maximizar suas horas de jogo e poder tirar as conclusões necessárias.

Recentemente o Paulo de Taubaté escreveu em seu Report do PTQ Kyoto (link aqui), no qual ele venceu, quais as conclusões que ele foi tirando do formato conforme os treinos iam acontecendo. É mais ou menos esse tipo de pensamento que vocês precisam ter em mente.

De resto, é aquela velha história de jogar o máximo possível com jogadores que sejam pelo menos tão bom quanto você. Sinto-me um privilegiado por manter um contato razoavelmente próximo a jogadores que eu admiro tanto como o Bertu, o Paulo, o Shooter, o Xiko, o PV e muitos outros.

2 – Vida pessoal x Vida de jogador

Quando você começar a levar o jogo mais a sério, perceberá que sua vida de jogador entrará em constante conflito com sua vida pessoal. Será preciso abrir mão de algumas badalações nos finais de semana e encontrar tempo livre durante os outros dias para treinar o máximo possível.

Como comentei anteriormente, uma boa noite de sono é fundamental para você manter o foco e a mesma pegada durante um campeonato inteiro. Não adianta nada você começar muito bem e durante as partidas decisivas começar a cometer erros infantis devido ao cansaço.

Quem está disposto a levar o jogo mais a sério e pretende um dia ser um jogador profissional, sabe como abrir mão de viagens e festas para guardar dinheiro e tempo para idas a PTQs em outros estados é muito mais comum do que parece.

3 – Evolução

Por último, você tem que ter em mente, que o principal no jogo é você estar sempre em constante evolução. Não importa o quanto você joga, você precisa estar ciente se teu jogo tem evoluído ou se você continua cometendo os mesmos erros de anos atrás.

Caso os erros sejam mais freqüentes do que deveriam, talvez o ideal seja mudar sua metodologia de treino ou seus companheiros. Reflita um pouco sobre o que você pode estar fazendo de errado e mude o quanto antes.

Acredito que seja mais ou menos isso daí. Sei que o texto ficou longo, mas a minha idéia era contar a minha história que eu tenho com o jogo e quais as lições que aprendi durante esses anos e que tal história ajude vocês a não cometerem os mesmos erros que eu cometi no passado.

Domingo agora vou jogar o PTQ no Rio de Janeiro e o tempo de treino tem sido o mais curto possível, comparado com o que eu havia treinado caso o torneio fosse Limited. De qualquer forma, espero me sair bem e que vocês tenham gostado do texto.

Bom final de ano a todos e até a próxima!

7 comentários:

Anônimo disse...

Fantastico o post, eu enxergo igual a vc, sei quanto é dificil abrir mão de algo que gosta por desanimo e sei tbm o quanto é gostoso uma vitoria, tbm aprendi que magic não é mais diversão quanto era, na epoca que jogavamos nos recreios da escola xD, agora mais maduro nossas metas mudam e começamos a priorizar outras coisas que abalam nosso psicologico levando a um desastre em algum momento do jogo.

a meta de 2009 é nacional e day2 no GP mais esperado para a nova leva de players brasileiros.

GOGOGO!

Anônimo disse...

Muito bom report!
Aprendi muito com o thorgrim, principalmente o “meu deck é melhor”, “eu vou ganhar”, “eu jogo melhor do que ele” que são táticas infaliveis para ganhar o jogo!

Anônimo disse...

saudades de Mana-Birds, Mana-Fires Mana-Blastoderma...

bons tempos...

Anônimo disse...

Muito boa redação Thorgrim. Tbm tenho alguns anos de magic igual que tu e da mesma forma temos vivencias muito parecidas. è muito bom poder expressar isso na escrita e poder repassar para os leitores do blog. Continua assim, bola pra frente.

Um grande abraço.

Ertai.

Leandro disse...

Ei, como assim, cade o manaRamp nessa enquete ai --->

André Dembitzky disse...

No momento que mais jogadores encararem o magic como algo com potencial para a profissionalização, mas poderemos ver jogadores com qualidade disputando vagas entre os grandes do mundo.
Thorgrim, continue o que você faz e sempre que alguem falar alguma coisa ao contrario, ignore, e continue treinando.

Fox

Carlos Alexandre disse...

Pow mlk...mt phoda o texto msm ehm...
Eu ontem dei uma desanimada apos ter perdido, mais uma pessoa olhou pra min e disse...
"Você é muito mais do que todos aqueles ali, vc merecia levar a vaga, use essa derrota pra te fortalecer, e levante a cabeça que o proximo é seu, acredite vc msm nisso"

Tipow, eu fui pra casa e fiquei pensando nisso, é verdade bate um desanimo, mais temos que tocar bola pra frente e encarar os desafios...

Flws ae thorgrim, abração