De olho no Jund Blood

por Rafael "extorquido" Quadros

Cascade é real. O deck de combo com Swans of Bryn Argoll permanece dentro do radar, embora ''mais justo" agora que o hate está onipresente tanto no maindeck quanto no side dos outros decks viáveis, e principalmente agora que o Fadas está de volta com força total. No último GP, Seattle/Tacoma, nada menos que cinco Fadas fizeram o Top8, embora uma lista de Doran - na minha opinião horrenda e totalmente luck-based com seus 21 lands - tenha levado o título.

Fadas está de volta. Swans cascade é um deck popular por ser relativamente fácil de montar, de jogar, e ser combo - naturalmente atraente a uma boa parcela dos jogadores. 5CC acaba de levar uma vaga em regional nas mãos de Sando, o íche. Os decks de token perdem popularidade. Humm. Me parece uma boa hora pra ser agressivo, e Bloodbraid Elf é o comandande perfeito para o assalto.

Bloodbraid Elf não é apenas "2 pra 1". Ele é mais que isso. Ele é agressivo, ele divide seu 2 pra 1 em 2 spells diferentes, ele encontra cartas chave do seu deck - que provavelmente foi cuidadosamente montado para abusar do efeito - além de tirar da sua frente as famigeradas e temidas "land chunks". E uma lista recente me chamou a atenção, não apenas por ser exatamente o deck agressivo com Bloodbraid Elf que eu procuro, mas por ter feito 9-0 no day 1 do GP Seattle/Tacoma, o que não é pouco. Eis a tal lista:

Jund Blood, por Noah Weil
9-0 GP Seattle/Tacoma

3 Fire-Lit Thicket
1 Forest
3 Graven Cairns
1 Karplusan Forest
1 Mountain
1 Reflecting Pool
4 Savage Lands
1 Sulfurous Springs
2 Swamp
4 Treetop Village
4 Twilight Mire

3 Anathemancer
4 Bloodbraid Elf
2 Boggart Ram-Gang
3 Chameleon Colossus
4 Kitchen Finks
4 Putrid Leech

1 Garruk Wildspeaker
2 Jund Charm
1 Loxodon Warhammer
4 Maelstrom Pulse
1 Resounding Thunder
1 Terminate
3 Terror
2 Volcanic Fallout

Sideboard
1 Anathemancer
1 Banefire
3 Bituminous Blast
2 Guttural Response
1 Llanowar Wastes
2 Terminate
4 Thought Hemorrhage
1 Volcanic Fallout

Gostei muito dessa lista, mas já de cara algumas coisas estranhas me chamam a atenção, como o Garruk perdido e a escolha de 4 spot removals além de Pulse, o que não me parece muito bom com os Bloodbraids contra vários decks (embora seja excelente contra outros, claro). Antes de mais nada, decidi montar a curva de mana do deck.

2: 8
3: 19 (!)
4: 8

O deck não precisa de mais do que 4 manas para operar. Gostei. Claro, Anathemancer, Loxodon Warhammer, Treetop Village, e fazer 2 spells por turno são boas razões pra usar e continuar baixando suas 25 lands, mas acho que ficaria contente com 24 e uma distribuição diferente de criaturas:

-4 Kitchen Finks
+2 Boggart Ram-Gang
+2 Civic Wayfinder

Finks é uma carta difícil de analisar em um deck como esse. Ele é a única criatura não-agressiva do deck. Putrid Leech, Anathemancer, Ram-Gang, Colossus e Bloodbraid são todos bastante aggro, mas os Finks perdidos nem tanto. Ram-Gang em especial é uma carta INSANA. É especialmente boa contra Chameleon Colossus, que pode nos trazer problemas, e as criaturas Persist do BW, enquanto Kitchen Finks é pouco mais que um chump block contra elas.

Civic Wayfinder é uma carta que eu gosto bastante, por duas razões no mínimo: Ele aumenta o "Elf count" do deck para 9, o que viabiliza Gilt-Leaf Palace como, no mínimo, uma opção para solidificar ainda mais a base de mana. A outra razão, muito mais importante, é assegurar a 4a land. Você perder a 4a land drop, nesse deck, é imperdoável. Você quer fazer o Bloodbraid Elf o quanto antes, principalmente na play contra decks como Swanscade e Faeries, e o Civic garante essa land drop. A filtrada é bem-vinda também, e com 2 Civics podemos talvez baixar o número total de lands pra 24, ganhando um slot de graça no maindeck. Me parece muito bom.

Analisando agora as "estranhezas" como 1 Garruk, 1 Terminate, 1 Loxodon Warhammer, e 1 Resounding Thunder. De cara eu gosto e aprovo o Warhammer e o Thunder. Joguei de BG praticamente o ano passado inteiro, e sempre com 1 Loxodon Warhammer perdido. Era impressionante a diferença que esse slot fazia. Eu ganhava jogos que eu não merecia ganhar basicamente nas costas do equipamento, e agora com Bloodbraid Elf na jogada essa única cópia me parece melhor ainda, pois aparecerá com mais frequência.

O Resounding Thunder é o toque especial, e tenho certeza que Noah Weil ganhou vários jogos ciclando essa "comunzinha". Turbo Fog e 5CC em especial são matchups onde ela deve ter brilhado muito (no Corinthians), dando 6 de dano sem se preocupar com Negate, Cryptic Command, ou qualquer coisa do gênero. E contra fadas então, que geralmente estabiliza com 1-6 pontos de vida? Ciclou, morreu. Fácil assim.

Continuando, vejo o Terminate sozinho. Confesso que no começo achei bem estranho, mas cada vez que eu pensava em algo contra esse split 3/1 entre Terror e Terminate, mais eu gostava dele. Sim, exatamente. Pra começar, ao usar ambas, você confunde seu oponente. Ele não vai saber nem quantas spot removals você usa ao todo, nem quantas cópias de cada. Isso te ajuda a blefar, pois um oponente que vê Terror e Terminate no mesmo deck vai pensar duas vezes quando vir duas manas estrategicamente abertas do seu lado da mesa. Potencialmente seu deck tem as 8 cópias possíveis, e seu oponente vai, na maioria das vezes, jogar como se você tivesse, sim, a remoção na mão.

Outro ponto importante é que essas duas remoções juntas compõem uma espécie de "playset anti-Mistbind Clique". Tanto Terror quanto Terminate fazem o mesmo contra uma Mistbind, e cada uma tem suas vantagens e desvantagens contra outras ameaças do formato. Doran, Sygg, Demigod of Revenge e especialmente Putrid Leech são reais agora, e Terror não pega nenhuma delas. Por outro lado, Terror é mais fácil de jogar e pega Burrenton (que alopra esse deck e PRECISA morrer). Concordo plenamente com o split 3/1, mas usaria 2/2 numa boa. Aliás, isso é o que Noah Weil faz com Jund Charm e Volcanic Fallout. Além de confundir seus oponentes, Jund Charm tem aplicações que Volcanic Fallout não tem e vice-versa. O pump do medalhão é especialmente bom quando você flipa ele no cascade e não quer limpar a mesa, e Fallout tem todo o seu valor contra decks com permission tipo 5CC e Faeries.

O último ponto que quero discutir é o singelo Garruk. Eu gosto de Garruk, de verdade, mas ele sozinho me parece tão perdido... diferente de Loxodon Warhammer e Resounding Thunder, o impacto dele como singleton é mais fraco. Warhammer vira jogo contra os aggros da mesma forma que o Resounding Thunder faz com os controls, enquanto o Garruk é excelente no 4o turno mas bem menos relevante como um topdeck numa situação difícil. No lugar dele, sugiro algumas opções:

- Bituminous Blast
Mover 1 pro maindeck não só abre um slot do side como aumenta as respostas do deck contra Mistbind Clique, oferece uma carta excelente no mirror e contra decks como Doran (é mais uma maneira de matar Wilf-Leaf Liege), e aumenta a quantidade de cartas com Cascade. Gosto bastante.

- Primal Command
Eu gosto muito de Primal Command. Na play principalmente, quando você curva legal, colocar uma land no topo e ganhar 7 mantém você na race (ou vira a seu favor), e colocar a land no topo e puxar um Bloodbraid Elf pro turno seguinte é excelente. Essa opção me parece muito, muito boa.

- Incendiary Command
Total pegadinha. Quebrar uma Windbrisk Heights e tirar os tokens da mesa/matar um Ajani pode mudar completamente o jogo contra tokens. Gosto muito, tem um "wtf!? factor" fortíssimo!

- Banefire/Lavalanche/Profane Command
Não são legais com cascade, mas 1 cópia singela de um finisher como esses me parece tão bom... Gosto muito das três opções, em especial o Profane, que tem o potencial de causar a maior quantidade de dano por mana investido ao voltar um Anathemancer e forçar lifeloss, ou o Banefire, por ter "protection from Turbo Fog/Faeries". As 3 opções são ótimos topdecks, e Banefire é ainda a melhor no early game por matar um bixo por menos mana que as outras duas.

- Anathemancer/Chameleon Colossus
Fechar o playset de uma das duas me parece bom. Com Anathemancer, salvamos 1 slot do side, e com Chameleon Colossus aumentamos o Elf count do deck pra 10 (viabilizando ainda mais Gilt-Leaf Palace) e melhoramos o deck ainda mais no mirror. Sem contar que o colossão é provavelmente a melhor criatura do deck para levantar um Loxodon Warhammer do chão.

- Colossal Might
Pump "pegadinha", ótimo no flip com o Bloodbraid Elf. Por outro lado, muito menos relevante que Garruk como um topdeck no final do jogo. Não gosto muito, mas é uma opção.

Veredicto: Abrir um slot do side é relevante demais. Eu entraria então com uma das Bituminous Blasts, ou com o quarto Anathemancer, ou com o Banefire.

Base de mana

Acho a base de mana desse cara simplesmente hedionda. 10 filters? É sério isso? 10 filters e UMA Reflecting Pool? Pegadinha né? Logo de cara sugiro o seguinte:

-2 Graven Cairns
-1 Twilight Mire
-1 Savage Lands
-1 Karplusan Forest
-1 Swamp

+2 Reflecting Pool
+2 Sulfurous Springs
+1 Gilt-Leaf Palace
+1 Mountain

As lands saindo são 5 Pretas, 4 Vermelhas e 3 Verdes. E as lands entrando são 5 Pretas, 5 Vermelhas e 3 Verdes. Ganhamos uma fonte de mana Vermelha, utilizamos só 7 filterlands e não 10, e uma das nossas 8 taplands nem sempre terá que entrar tap. A única "drawback" que ganhamos é uma painland extra, o que acredito que não será um grande problema. O deck fica muito mais consistente agora que conta com 3 Reflecting Pools, que com a entrada do Civic Wayfinder pra ajudar sempre darão a mana certa. Sulfurous Springs "comba" com Twilight Mire e o Swamp básico como as lands perfeitas para baixar depois de uma Treetop no turno 1, gerando junto com a manland o BG necessário para a Putrid Leech, então não vejo razão para usar menos que duas, no mínimo. É uma land que faz Leech e também gera uma das 2 vermelhas necessárias para o Volcanic Fallout. 3 Savage Lands apenas me deixa um pouco triste, mas Treetop é infinitamente boa e eu realmente não quero usar 8 lands que sempre entram tap em um deck que quer curvar certinho como esse.

Finalizando então, essa é a decklist sugerida por mim:

Jund Blood

3 Anathemancer
4 Bloodbraid Elf
4 Boggart Ram-Gang
3 Chameleon Colossus
2 Civic Wayfinder
4 Putrid Leech

1 Anathemancer/Banefire/Bituminous Blast
2 Jund Charm
1 Loxodon Warhammer
4 Maelstrom Pulse
1 Resounding Thunder
1 Terminate
3 Terror
2 Volcanic Fallout

3 Fire-Lit Thicket
1 Forest
1 Gilt-Leaf Palace
1 Graven Cairns
2 Mountain
3 Reflecting Pool
3 Savage Lands
3 Sulfurous Springs
1 Swamp
4 Treetop Village
3 Twilight Mire

Sideboard
0/1 Anathemancer
0/1 Banefire
2/3 Bituminous Blast
1 Chameleon Colossus (entra no side no lugar de uma das cartas acima, que você moveu para o main no lugar do Garruk)
2 Guttural Response
1 Gilt-Leaf Palace (melhor que a Wastes do side agora que temos 9, potencialmente 10 Elfos)
2 Terminate
4 Thought Hemorrhage
1 Volcanic Fallout

Como vocês podem ver, quase não mexi no side. Por duas razões: side depende do ambiente que você espera, não existem 15 cartas sólidas que você vai usar sempre e pronto. E também porque eu gostei bastante do side dele. Fico curioso com a land no side, mas é fato que quando você entra com Thought Hemorrhage e/ou Bituminous Blast enquanto sai com um mix de sweepers/terrors a curva aumenta considerávelmente. É o mesmo caso do BW Persist, que também usava um split de 25/1 lands para poder usar 26 quanto dava side out em cartas como Tidehollow Sculler para entrar com Wrath of God e Puppeteer Clique.

Esse deck me parece uma opção muito boa para o GP São Paulo. Como o Pro Tour Honolulu será Block, só nos resta treinar (e muito) e observar os PEs do MOL para acompanhar o formato, que lentamente vai se estabilizando. Meu conselho pessoal para todos que estão em dúvida entre dois (ou muitos) decks: jogue com aquele que você mais conhece. Nenhum deck se sobressai como o melhor, e conta muito mais você saber o que fazer com as suas 75 cartas do que a escolha delas em si. Saber quando e no quê dar side out/side in é crucial, então playtestem muito, inclusive jogos pós-side.

Um abraço a todos, obrigado e até o próximo post!